Na semana passada (Santíssima Trindade), Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”.
Em Corpus Christi, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: "Tomai, isto é o meu corpo".
O que vamos aprender nessa semana?
No Evangelho, Jesus institui a Eucaristia na Última Ceia, oferecendo seu corpo e sangue. Na Primeira Leitura, Moisés sela a aliança com o sangue dos sacrifícios, simbolizando a união com Deus.
Na Segunda Leitura, o sangue de Cristo purifica nossa consciência, tornando-se mediador da nova aliança.
Neste domingo, refletimos sobre a Eucaristia como a nova aliança e o sacrifício de Cristo por nós, um ato de amor que nos convida à comunhão e à transformação interior. Como essa graça se reflete em nossas vidas?
Leituras
Primeira Leitura (Ex 24,3-8)
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Moisés veio e transmitiu ao povo todas as palavras do Senhor e todos os decretos. O povo respondeu em coro: "Faremos tudo o que o Senhor nos disse". Então Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. Levantando-se na manhã seguinte, ergueu ao pé da montanha um altar e doze marcos de pedra pelas doze tribos de Israel. Em seguida, mandou alguns jovens israelitas oferecer holocaustos e imolar novilhos como sacrifícios pacíficos ao Senhor. Moisés tomou metade do sangue e o pôs em vasilhas, e derramou a outra metade sobre o altar. Tomou depois o livro da aliança e o leu em voz alta ao povo, que respondeu: "Faremos tudo o que o Senhor disse e lhe obedeceremos". Moisés, então, com o sangue separado, aspergiu o povo, dizendo: "Este é o sangue da aliança, que o Senhor fez convosco, segundo todas estas palavras".
Salmo Responsorial – Sl 115(116),12-13.15.16bc.17-18 (R. 13) – Ação de graças
O Salmo 115 celebra a gratidão e a invocação ao Senhor pela salvação recebida, destacando a importância de cumprir nossas promessas a Deus em comunidade.
Refrão (13): Elevo o cálice da minha salvação, invocando o nome santo do Senhor.
Que poderei retribuir ao Senhor Deus por tudo aquilo que ele fez em meu favor? Elevo o cálice da minha salvação, invocando o nome santo do Senhor. R.
É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos, seus amigos. Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, que nasceu de vossa serva; mas me quebrastes os grilhões da escravidão! R.
Por isso oferto um sacrifício de louvor, invocando o nome santo do Senhor. Vou cumprir minhas promessas ao Senhor na presença de seu povo reunido. R.
Segunda Leitura (Hb 9,11-15)
Leitura da Carta aos Hebreus
Irmãos: Cristo veio como sumo-sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, e não com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, quanto mais o Sangue de Cristo, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha. Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna.
Sequência (ou abreviada, a partir de: ** Eis o pão...)
A Sequência de Corpus Christi, "Lauda Sion Salvatorem" foi composta por São Tomás de Aquino no século XIII, quando a festa de Corpus Christi foi estabelecida para toda a Igreja Católica. É um hino litúrgico que celebra o mistério da Eucaristia, louvando o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo como fonte de vida e salvação.
Terra, exulta de alegria, louva teu pastor e guia com teus hinos, tua voz!
Tanto possas, tanto ouses, em louvá-lo não repouses: sempre excede o teu louvor!
Hoje a Igreja te convida: ao pão vivo que dá vida vem com ela celebrar!
Este pão, que o mundo o creia! por Jesus, na santa ceia, foi entregue aos que escolheu.
Nosso júbilo cantemos, nosso amor manifestemos, pois transborda o coração!
Quão solene a festa, o dia, que da santa Eucaristia nos recorda a instituição!
Novo Rei e nova mesa, nova Páscoa e realeza, foi-se a Páscoa dos judeus.
Era sombra o antigo povo, o que é velho cede ao novo: foge a noite, chega a luz.
O que o Cristo fez na ceia, manda à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar.
Seu preceito conhecemos: pão e vinho consagremos para nossa salvação.
Faz-se carne o pão de trigo, faz-se sangue o vinho amigo: deve-o crer todo cristão.
Se não vês nem compreendes, gosto e vista tu transcendes, elevado pela fé.
Pão e vinho, eis o que vemos; mas ao Cristo é que nós temos em tão ínfimos sinais...
Alimento verdadeiro, permanece o Cristo inteiro quer no vinho, quer no pão.
É por todos recebido, não em parte ou dividido, pois inteiro é que se dá!
Um ou mil comungam dele, tanto este quanto aquele: multiplica-se o Senhor.
Dá-se ao bom como ao perverso, mas o efeito é bem diverso: vida e morte traz em si...
Pensa bem: igual comida, se ao que é bom enche de vida, traz a morte para o mau.
Eis a hóstia dividida... Quem hesita, quem duvida? Como é toda o autor da vida, a partícula também.
Jesus não é atingido: o sinal é que é partido; mas não é diminuído, nem se muda o que contém.
** Eis o pão que os anjos comem transformado em pão do homem; só os filhos o consomem: não será lançado aos cães!
Em sinais prefigurado, por Abraão foi imolado, no cordeiro aos pais foi dado, no deserto foi maná...
Bom pastor, pão de verdade, piedade, ó Jesus, piedade, conservai-nos na unidade, extingui nossa orfandade, transportai-nos para o Pai!
Aos mortais dando comida, dais também o pão da vida; que a família assim nutrida seja um dia reunida aos convivas lá do céu!
Evangelho (Mc 14,12-16.22-26)
No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal, os discípulos disseram a Jesus: "Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?" Jesus enviou então dois dos seus discípulos e lhes disse: "Ide à cidade. Um homem carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o e dizei ao dono da casa em que ele entrar: 'O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?' Então ele vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Aí fareis os preparativos para nós!" Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus havia dito, e prepararam a Páscoa. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: "Tomai, isto é o meu corpo". Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes e todos beberam dele. Jesus lhes disse: "Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Em verdade vos digo, não beberei mais do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus". Depois de terem cantado o hino, foram para o monte das Oliveiras.
Palavras do Papa
O Evangelho apresenta-nos a narração da Última Ceia. As palavras e os gestos do Senhor tocam o nosso coração: Ele toma o pão nas suas mãos, pronuncia a bênção, parte-o e dá-o aos discípulos, dizendo: «Tomai, isto é o meu corpo».
É assim, com simplicidade, que Jesus nos concede o maior sacramento. O seu é um gesto humilde de doação, um gesto de partilha. No ápice da sua vida, não distribui pão em abundância para alimentar as multidões, mas parte-se a si mesmo na ceia pascal com os discípulos. Deste modo, Jesus mostra-nos que a meta da vida consiste em doar-se, que o mais importante é servir. E hoje encontramos a grandeza de Deus num pedacinho de Pão, numa fragilidade que transborda de amor e de partilha. Fragilidade é precisamente a palavra que eu gostaria de frisar. Jesus torna-se frágil como o pão que se parte e se esmigalha. Mas é precisamente na sua fragilidade que está a sua força. Na Eucaristia, a fragilidade é força: força do amor que se faz pequeno para ser acolhido e não temido; força do amor que se parte e se divide para alimentar e dar vida; força do amor que se fragmenta para reunir todos nós em unidade.
E há outra força que sobressai na fragilidade da Eucaristia: a força de amar quem erra. Na noite em que é traído Jesus dá-nos o Pão da vida. Concede-nos o maior dom enquanto sente no coração o abismo mais profundo: o discípulo que come com Ele, que se serve do mesmo prato, atraiçoa-o. E a traição é a maior dor para quem ama. E o que faz Jesus? Reage ao mal com um bem maior. Responde ao “não” de Judas com o “sim” da misericórdia. Não castiga o pecador, mas dá a vida por ele, paga por ele. Quando recebemos a Eucaristia, Jesus faz o mesmo em relação a nós: conhece-nos, sabe que somos pecadores e sabe que cometemos muitos erros, mas não renuncia a unir a sua vida à nossa. Sabe que precisamos disto, pois a Eucaristia não é a recompensa dos santos, não, é o Pão dos pecadores. É por isso que nos exorta: “Não tenhais medo! Tomai e comei!”.
Cada vez que recebemos o Pão de vida, Jesus dá um novo sentido às nossas fragilidades. Recorda-nos que aos seus olhos somos mais preciosos do que pensamos. Diz-nos que se sente feliz quando partilhamos com Ele as nossas fragilidades. Repete-nos que a sua misericórdia não teme as nossas misérias. A misericórdia de Jesus não tem medo das nossas misérias. E acima de tudo, cura-nos amorosamente daquelas fragilidades que não podemos curar sozinhos. Quais fragilidades? Pensemos. A de nutrir ressentimento para com aqueles que nos fizeram mal, não a podemos curar sozinhos; a de nos distanciarmos dos outros e nos isolarmos em nós mesmos, não a podemos curar sozinhos; a de nos comiserarmos e de nos queixarmos sem encontrar a paz, também não a podemos curar sozinhos. É Ele que nos cura com a sua presença, com o seu Pão, com a Eucaristia. A Eucaristia é remédio eficaz contra estes fechamentos. Com efeito, o Pão da vida cura a rigidez, transformando-a em docilidade. A Eucaristia cura porque une a Jesus: faz-nos assimilar o seu modo de viver, a sua capacidade de se partir a si mesmo e de se entregar aos irmãos, de responder ao mal com o bem. Dá-nos a coragem de sair de nós próprios e de nos debruçarmos com amor sobre as fragilidades dos outros. Como Deus faz em relação a nós. Esta é a lógica da Eucaristia: recebemos Jesus que nos ama e cura as nossas fragilidades para amar os outros e para os ajudar nas suas fragilidades. E isto, durante a vida inteira. Hoje, na Liturgia das Horas, recitamos um hino: quatro versos que são o resumo de toda a vida de Jesus. Dizem-nos que, ao nascer, Jesus se fez companheiro de viagem na vida; depois, na ceia, entregou-se como alimento; em seguida, na cruz, na sua morte, fez-se “preço”, pagou por nós; e agora, reinando nos Céus, é a nossa recompensa que vamos buscar, aquela que nos espera.
Que a Santa Virgem, em quem Deus se fez carne, nos ajude a receber com coração grato o dom da Eucaristia e a fazer também da nossa vida uma dádiva. Que a Eucaristia faça de nós um dom para os outros. (Angelus, 06 de junho de 2021)